sábado, 7 de novembro de 2009

Domínio do pantanal
Quem não conhece muito sobre esse bioma, pode pensar que se trata de uma região pantanosa, repleta de brejos. Tudo bem, os terrenos alagados são muito comuns no pantanal. Mas lá não existem somente brejos e pântanos.

O pantanal ocupa a parte sul do estado do Mato Grosso e o noroeste do Mato Grosso do Sul. Essas são as regiões brasileiras do bioma, que somam cerca de 137 mil km2. Além da fronteira, ele continua pelo norte do Paraguai e o leste da Bolívia.

Localizado próximo à Amazônia e ao cerrado, o pantanal guarda espécies de fauna e de flora desses outros dois biomas, além de apresentar espécies endêmicas, ou seja, que só podem ser encontradas naquela área geográfica, nativas da região.

Por sua rica biodiversidade, o pantanal é considerado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) um Patrimônio Natural Mundial. Vamos então saber mais sobre esse tesouro.

Fauna

Tuiuiú. Foto: Rita Barreto
Tuiuiú. Foto: Rita Barreto
Até agora já foram encontradas na região 122 espécies
de mamíferos, 93 de répteis, 656 de aves e 263 de peixes. Estes dois últimos grupos, aves e peixes, constituem os animais mais exuberantes do bioma.

O Tuiuiú é a ave símbolo do Pantanal. Com as asas abertas ele chega a medir dois metros de envergadura. Asas grandes, não acha? É, mas não é só o Tuiuiú que chama atenção nos céus do pantanal. Também se destacam aves como garças, urubus, araras, papagaios, periquitos e falcões.

Como a água é um fator abundante neste grande ecossistema, os peixes são numerosos. Existem mais espécies de peixes no pantanal do que nos rios de toda a Europa! Fazem parte deste grupo milhares de pintados,pacus, dourados, piauçus e jaús. Os jaús são bagres gigantes que chegam a medir um metro e meio de comprimento e pesar 120 quilos.

Dentre os mamíferos, podemos citar a onça-parda, a onça-pintada, a jaguatirica, a capivara, a ariranha, o macaco-prego e o cervo-do-pantanal. A maior parte dos mamíferos do pantanal vive nas matas de galeria, matas que acompanham a margem dos rios.

 Jacaré-do-Pantanal. Foto: Sesc Pantanal
Jacaré-do-Pantanal. Foto: Sesc Pantanal
Talvez o réptil mais conhecido do pantanal seja o jacaré. Já foram encontrados jacarés com até dois metros e meio de comprimento. São três as espécies mais vistas: o jacaré-do-Pantanal, o jacaré-comum e o jacaré-do-papo-amarelo. Você imagina o que esses jacarés comem? Calma... Acredite: a dieta desses grandes jacarés é baseada em peixes. Não são animais agressivos como vemos em muitos filmes: só atacam os homens quando se sentem ameaçados.

Além dos jacarés, estão entre os répteis diferentes cobras, como a sucuri, a jararaca e a jiboia e o sinimbu, um tipo de lagarto.

Existe ainda no pantanal uma infinidade de formigas, cupins, aranhas e mosquitos.

Vegetação

Pau-de-formiga/imagem.ufrj.br
Pau-de-formiga/imagem.ufrj.br
A vegetação é na verdade um conjunto de diversas paisagens. Já falamos aqui que o bioma fica próximo à região amazônica e ao cerrado. Pois bem, a proximidade com tais áreas faz com que o pantanal apresente algumas formações vegetais próximas às da Amazônia, como as que aparecem em terrenos alagados, e outras parecidas com as do cerrado, como nos campos não inundados ou nas matas de galeria.

Nas matas de galeria ou ciliares, que ficam nas margens dos rios, cresce uma floresta mais densa, com jenipapos, figueiras, ingazeiros, palmeiras e o pau-de-formiga. E aqui vai uma curiosidade: o pau-de-formiga tem esse nome, porque é uma árvore que serve de abrigo a formigas, cujas picadas ardem bastante. Quando a árvore é balançada, por exemplo, quando alguém tenta cortá-la ou encosta nela, as formigas caem e começam a picar quem está embaixo. Danadinhas essas formigas do pantanal...

Nas áreas alagadas raramente, semelhantes aos campos limpos do bioma cerrado, aparecem tapetes de gramíneas, como por exemplo, o capim-mimoso. Em locais nunca alagados, aparecem árvores grandes, como o carandá, o buriti e os ipês, que nos meses de julho e agosto colorem o pantanal com flores rosas, lilás e roxas.

Aguapé roxo. Foto: Projeto Terra Azul
Aguapé roxo. Foto: Projeto Terra Azul
Nos terrenos alagados constantemente são encontrados vegetais aquáticos flutuantes, como o aguapé e a erva-de-santa-luzia, além de vegetais fixos com folhas imersas, como a sagitária, e plantas que permanecem submersas, como a cabomba e a utriculária.

Existem ainda na paisagem pantaneira matas conhecidas como paratudais. Nestas matas crescem árvores com cascas espessas, rugosas e com galhos retorcidos. Nelas predominam os ipês-amarelos, conhecidos na região também como paratudo. Daí o nome deste tipo de vegetação.

Solo

O solo da planície pantaneira foi formado a partir de fragmentos vindos de terrenos mais altos. É uma superfície pouco permeável. As características deste solo são resultado das constantes inundações: como há excesso de água, a decomposição de matéria orgânica se dá de forma mais lenta e difícil, o que diminui a fertilidade.

A fertilidade só chega às regiões que foram alagadas quando elas voltam a secar. Quando as chuvas param e o os terrenos secam, fica sobre a superfície uma mistura de areia, restos de animais e vegetais, sementes e húmus, uma camada que torna o solo mais fértil.

Nos terrenos mais altos e mais secos, o solo é arenoso e ácido. Nestes locais a água absorvida é retida no subsolo, em lençóis freáticos. Estes solos também são limitados em relação à fertilidade.

Relevo

A planície é o tipo de relevo predominante no Pantanal. Quando a planície está alagada, no meio das águas podem ser vistas elevações arenosas, com até seis metros de altura. Estas elevações são conhecidas como cordilheiras.

 Planície pantaneira alagada. Foto: Flickr
Planície pantaneira alagada. Foto: Flickr
Cercando a planície existem alguns terrenos mais altos, como chapadas, serras e maciços. O mais famoso maciço é o de Urucum, em Mato Grosso.

Água

No grande ecossistema chamado pantanal, a água é um elemento que regula a vida. Estamos falando da maior planície alagável do mundo: calcula-se que cerca de 180 milhões de litros de água entram na planície pantaneira por dia.

Mas de onde será que vem essa água toda?

As enchentes ocorrem nos meses de chuva. Nessa época o volume dos rios que cortam a região aumenta. Com isso, as planícies pantaneiras, que tem baixo declive, ou seja, são pouco inclinadas, retém as águas que por elas passam. Como o solo das planícies é pouco permeável, ele não consegue absorver todo o volume de água, que acaba por inundar grandes áreas. E assim são formadas lagoas, baías, pântanos e brejos que permanecem ligados através dos cursos dos rios.

Destacam-se como importantes rios da região o Cuiabá, o São Lourenço, o Itiquira, o Correntes, o Aquidauana e o Paraguai. Todos eles fazem parte da bacia hidrográfica do Rio da Prata, que engloba grande parte do sudoeste brasileiro.

Clima





Foto: Opimentas / Flickr.

O clima no Pantanal é classificado como tropical, caracterizado por temperaturas elevadas. A região apresenta duas estações bem definidas: o verão chuvoso, de outubro a março, quando a temperatura fica em torno de 32º C e o inverno seco, de abril a setembro, quando a média de temperatura é de 21º C.

As chuvas fortes são um fator determinante da paisagem pantaneira. Elas propiciam as cheias, que mudam a cara da vegetação e também a vida de animais e homens por alguns meses do ano.

Fontes de informação:

Ibama
MRE
WWF Brasil

Aqui você verá imagens do relevo falado a cima:

Dourado (Salminus brasiliensis)

Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris)

Carcara (Caracara plancus)

Sucuri (Eunectes notaeus)

Onça Pantanal Ecoturismo



Arara Pantanal Brasil


A destruição do pantanal.


40% do Pantanal já foi embora – Desde a virada do século se discute qual seria a dimensão do estrago ambiental na região do Pantanal. Que há problemas, ninguém duvida. Mas alguns produtores rurais diziam que o problema era pontual, próximo das regiões densamente povoadas. Alguns ambientalistas, ao contrário, alardeavam que 70% da região já estava comprometida. Um estudo ainda inédito, revelado com exclusividade a ÉPOCA, mostra o verdadeiro tamanho do problema: já perdemos 40% da cobertura vegetal da região. É um índice preocupante. O que sustenta a beleza e a diversidade biológica extraordinárias do Pantanal é um equilíbrio frágil entre períodos de cheia e de seca. Esse equilíbrio está ameaçado pela expansão da pecuária e pela produção de carvão vegetal para siderúrgicas.

O mapeamento foi feito por cinco entidades ambientalistas – WWF-Brasil, SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional, Avina e Ecoa. A conclusão: embora a planície esteja bem preservada, com 85% de sua vegetação intacta, a região das terras altas já tem 58% das matas comprometidas. Nesses planaltos estão as cabeceiras dos rios responsáveis pelos ciclos de cheias que tornam o Pantanal a maior área alagada do mundo. Essas inundações são fundamentais para manter a biodiversidade da região – suas 263 espécies de peixes, 122 de mamíferos, 93 de répteis e 656 de aves, além de 1.132 espécies de borboletas catalogadas.

A ampliação de pastagens é uma das principais causas do desmatamento no Pantanal. Nos últimos seis anos foram abertos 12.000 quilômetros quadrados de novos pastos na região, o equivalente a dez municípios do Rio de Janeiro. O processo deve se acelerar. “Só em Mato Grosso do Sul existem 22 milhões de cabeças de gado, que crescem a cada ano e são a base da economia local”, diz o engenheiro ambiental Michael Becker, do WWF-Brasil, um dos coordenadores do mapeamento. Além de aumentar, o rebanho está migrando para uma área menos adequada. Antes, a pecuária se concentrava nos campos naturais da região de planície, a área alagável do Pantanal. Agora, os rebanhos estão seguindo para as partes altas, onde a vegetação natural precisa ser derrubada para a formação de pastagens. O que empurra o gado é o crescimento do cultivo de cana-de-açúcar nas planícies pantaneiras nos períodos de seca.

Esse estudo da vegetação se junta a outro, do Coppe (centro de pesquisa de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), que fez um diagnóstico de uma área crítica do Pantanal, um conjunto de morros perto de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. A região, conhecida como a Morraria de Urucum, tem montanhas de até 1.000 metros de altitude e guarda a terceira maior jazida de minério de ferro e manganês do país. A riqueza mineral atraiu dezenas de mineradoras e siderúrgicas nos últimos dez anos.

Se causam alarme por revelar uma devastação bem maior do que se esperava, esses dois estudos também trazem esperança. Agora que se sabe onde está a devastação, e como ela se espalha, é possível criar mecanismos e políticas públicas para combatê- -la. Segundo o levantamento do Coppe, um dos primeiros impactos da mineração é a redução na quantidade de água. Dois rios da região de Maria Coelho, em Corumbá, já teriam praticamente secado.

“Não podemos afirmar que esse esgotamento foi todo gerado pelas empresas, pois a população também faz uso indevido da água e canalizações irregulares nos córregos”, diz Ricardo Melo, promotor do meio ambiente de Corumbá. “Mas estimamos que 70% do problema é causado pela mineração. E agora sabemos o que as empresas podem fazer para reduzir seu impacto.” Melo afirma que as empresas vão ter de criar um ponto de captação de água diretamente no Rio Paraguai, que tem uma vazão maior, e prestar conta sobre o volume de água que consomem. “Temos de aproveitar que, com a crise econômica, as empresas estão com suas atividades parcialmente suspensas para colocar em prática esses mecanismos de regulação”, afirma. “Assim, quando a demanda do ferro voltar a crescer, poderemos evitar o pior.”

A queima de vegetação nativa para a fabricação de carvão foi a segunda ameaça revelada pelo estudo. Esse carvão teria como destino a produção de ferro-gusa, principal matéria do aço. Uma das surpresas foi constatar que 70% desse carvão seria vendido às empresas de Minas Gerais, e não para as siderúrgicas de Mato Grosso do Sul, como se acreditava. “Precisamos descobrir como evitar que o Pantanal seja destruído para um fim tão pouco promissor como a produção de carvão.

Algumas forças estão se unindo para evitar o pior. O estudo do Coppe foi encomendado por um grupo de empresas e ONGs que decidiram buscar um equilíbrio entre a exploração mineral no Pantanal e a preservação do meio ambiente. Há três anos empresas e ambientalistas se encontram para negociar em um grupo intitulado Plataforma de Diálogo do Pantanal. “No começo era difícil porque havia desconfianças de ambos os lados”, diz Regina Schio, gerente de produção da MS Gás, uma das empresas da plataforma. “Agora todo mundo se conhece e, se não atuarmos com transparência, não vamos chegar a lugar nenhum.” O grupo também reúne as empresas Petrobras, MMX e Vetorial e as ONGs WWF, Conservação Internacional, Avina, Ecotrópica e Instituto Homem Pantaneiro (do músico Almir Sater).

Apesar das intenções, a Plataforma enfrenta grandes desafios. O primeiro é conquistar empresas de porte que ainda não participam da iniciativa, como a Vale, a Votorantim e a Rio Tinto. Todas fabricam ferro-gusa ou exploram minas na região do Maciço de Urucum. A Vale disse a ÉPOCA que integrará as discussões no futuro. A Rio Tinto vendeu sua mina recentemente para a Vale. A Votorantim não respondeu à reportagem até o final da semana.

O segundo desafio da Plataforma é driblar uma limitação que a lei brasileira impõe à conservação. Pela Constituição, a atividade mineradora tem prioridade sobre qualquer decisão de conservação ambiental. A descoberta de uma jazida mineral importante pode até gerar a extinção de uma unidade de conservação. Com o aumento da demanda pelo ferro, principalmente para exportação, os diálogos pela preservação podem perder força no Pantanal. “As empresas terão de fazer um acordo de cavalheiros para decidir que área da Morraria de Urucum terá mineração”, diz Sandro Menezes, da Conservação Internacional. Para fazer essa escolha, elas terão de correr riscos. Um deles é perder o direito de mineração da área para uma concorrente que não faça parte da Plataforma. “Para proteger a Morraria de Urucum, vamos ter de criar um mecanismo ainda inédito no país e no mundo”, diz Menezes.

Se o diálogo entre empresas e ONGs fracassar, a região da Morraria de Urucum, no coração do Pantanal, corre o risco de reviver a história de Minas Gerais. Lá, a exploração desordenada do minério de ferro transformou morrarias semelhantes em paisagens lunares. Como descreveu o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade ao ver a destruição de uma das paisagens de sua infância, em Itabira: “O Pico do Cauê já não se alteia. Mas no coração da gente ele resiste”. Por outro lado, se a iniciativa frutificar, poderá virar um modelo de exploração mineral com menores impactos ambientais. E também um exemplo de ação empresarial para ajudar a salvar outras áreas ricas em minério e biodiversidade, como algumas da Amazônia.

Lagoas da planície do Pantanal unem beleza e diversidade biológica. Mas as jazidas minerais no subsolo criaram uma corrida à região
Lagoas da planície do Pantanal unem beleza e diversidade biológica. Mas as jazidas minerais no subsolo criaram uma corrida à região.

Pantanal. Foto: EmbrapaQueimada no Cerrado, em foto de arquivo

CerradoCerrado: mapa da destruição

Imagem da vegetação do Cerrado. Foto ABr